Fortaleza sobre duas rodas e sem motor

A ciclofaixa de lazer inaugurada no último dia 21 de setembro é uma nova opção de passeio para fortalezenses e incentiva as pessoas a ocuparem as ruas

Reportagem: Iara Sá e Marília Ceres

Mesmo com seus quase 74km de ciclovias, Fortaleza ainda clama por mais espaços específicos para as bicicletas. Sua extensão ainda é tímida na frente dos 300km do Rio de Janeiro e aos 127km de Curitiba. Mas a boa notícia para quem gosta de pedalar é que agora, aos domingos, é possível contar com mais 10km de ampliação. A Ciclofaixa de Lazer, inaugurada no último dia 21, liga o Parque do Cocó ao Passeio Público, passando por pontos turísticos como a Beira Mar e o Mercado Central.

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Mapa da Ciclofaixa de Lazer de Fortalez

A iniciativa é da prefeitura da cidade, mas nem sempre foi assim. Em agosto de 2013, um coletivo chamado Massa Crítica Fortaleza pintou ciclofaixas improvisadas em duas ruas de capital: Canuto de Aguiar e Ana Bilhar. Na época, foram prontamente apagadas pela Autarquia Municipal de Trânsito (AMC). Após duas insistências, as delimitações acabaram sendo oficializadas pela gestão de Roberto Cláudio. Ao mesmo tempo que foi aclamada pelos ciclotativistas, a nova faixa gerou revolta por parte de alguns moradores da região. “Essas ruas são muito pequenas para a inserção de uma ciclofaixa.  Tornou-se impossível dois carros passarem ao mesmo tempo, e hoje temos que lidar com um engarrafamento que antes não existia”, explica a empresária Janne Félix.

Já para Davi Maia, fotógrafo, a criação desse tipo de espaço facilita que mais pessoas optem por outros tipos de modais, fazendo com que menos carros estejam nas ruas e o tráfego diminua. “Isso vale para os outros meios de transporte também. É preciso investir na melhoria do transporte público. Mais vias expressas e mais viadutos só vão abrir espaço para mais carros”.

Carlos Sawaki, designer, é uma dos que resolveram deixar as quatro rodas de lado e optar pela bicicleta como meio de transporte. Prezando pela questão do exercício físico e da sustentabilidade, ele acredita que a criação da ciclofaixa de lazer é uma atitude que deve ser parabenizada: “É uma ação bacana, pois dá visibilidade aos ciclistas. Aos poucos mais e mais pessoas vão enxergar que esse é o veículo do futuro e que a mobilidade urbana só tende a piorar com o aumento de automóveis”.

Falta de conscientização

Ainda em um processo de aceitação, a estrutura, que  não é usada apenas por quem anda de bicicleta, mas também por quem opta pelo skate ou patins como meio de transporte, acaba se tornando um pouco perigosa devido a falta de conscientização dos motoristas. Como conta Ricardo Esteves, estudante que utiliza o skate para o lazer e para se locomover ao trabalho todos os dias. “Eu estava andando na ciclofaixa da Santos Dumont – que é recente – veio uma moto e eu levei uma queda para não ser atropelado”, relata. “É bem comum ver moto na ciclofaixa, apesar de não ser correto. Não tão comum é o carro, mas você ainda vê”.

Além do desrespeito, os obstáculos nas ciclovias ainda são muito presentes. Placas, relógios e até ambulantes são comuns na ciclovia da Bezerra de Menezes. A avenida, que hoje passa por reforma para a criação de um corredor de ônibus, também teve várias árvores arrancadas. Até agora, 37 já foram retiradas e mais 94  serão até a conclusão da obra.

O meio ambiente em segundo plano

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Arvores sendo retiradas da avenida Dom Luis. [creditos: arquivo O Povo]

A questão ambiental tem muito a ver com a mobilidade de um lugar, principalmente em uma cidade como Fortaleza, onde os termômetros marcam cerca de 27 graus por quase todo o ano. “As árvores têm uma grande influência no conforto ambiental não só para o ciclista, mas para os pedestres também. Elas causam uma sensação térmica mais agradável tornando o trajeto mais confortável”, pontua Tiago Bezerra, estudante de Arquitetura e Urbanismo. Infelizmente, nos últimos 6 meses, cerca de 202 árvores foram arrancadas nos canteiros das avenidas Santos Dumont e Dom Luís para a construção de um binário.

Tiago ainda pontua que o uso do carro deve ser direcionado para o lazer e longos trajetos, pois as ruas não comportam o número de carros que têm atualmente. “Nós vivemos em uma realidade onde os automóveis particulares são a prioridade do planejamento urbano, o que vai de encontro as cidades mais desenvolvidas do mundo, representando, se não um retrocesso, pelo menos um atraso gigantesco no planejamento urbano”, conclui.

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